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Wittgenstein e Platão

por Tiago Moreira Ramalho, em 12.06.13

Uma imagem que não tem nada que ver com o assunto em questão, mas que é engraçadíssima.

 

Um tipo consegue impressionar-se. Principalmente, e aqui peço genuinamente que me poupem os dardos invejosos, quando está ainda mal entrado nos 20s. Há dois ou três filósofos, todos necessariamente mortos, que me despertam especial curiosidade para a construção de um «sistema». Um sistema geral de compreensão de tudo isto. Claro que haverá outros que simpaticamente contribuíram para entendimentos parciais, ou cujo texto permite olear algumas maçanetas. Mas aqueles em quem procuro uma espécie de verdade completa são poucos. Temos irremediavelmente Platão, temos curiosamente Wittgenstein e duvidosamente (daí o «dois ou três») Hume, que era, como todos sabemos, excessivamente gordo e cordato. (Nietzche mete-me cagufa, mas não digam à minha mãe, que ela alimenta a firme convicção de que sou bastante corajoso no que toca às leituras.) Pouco avisadamente botei-me a ler nos últimos dias umas coisinhas mais ou menos dispersas sobre Estética, uma brincadeira que nunca me agradou especialmente. Entre a possibilidade de uma estética cujo valor nasce e vive exclusivamente da qualidade ética, rejeitando-se por isso formas menores que nos tolham a razão e nos aproximem de alguma bestialidade, e a hipótese de uma estética que parece ser uma espécie de pequeno compartimento da «correcção» (o belo enquanto correcto), ganho pequenos afrontamentos. Porque se é certo que um belo que é bom, ou uma estética que é ética, por um lado, e uma estética que se aproxima disto, mas que ganha contornos de maior convencionalidade (admitindo que a própria ética não é mera convenção), por outro, me permitem um sistema compostinho, é também certo que fica aqui a arte num impasse. A arte como fim em si, ou no limite a arte com objectivos primordialmente sensacionistas e desrespeitadora da norma ou do método fica condenada à irrelevância estética. O problema do clássico como permanente ou volátil também fica enfiado no meio das duas paredes, mas disso já desisti.

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publicado às 11:25


Matraquilhos

por Tiago Moreira Ramalho, em 27.05.13

O sofrimento dos últimos dias tem-me lembrado o meu desprezo fundo por esse corolário da civilização do espectáculo que é o futebol. Em torno de mim, que saltito airoso por entre as derrotas e vitórias de uns e outros, e que só gastei alguma vez dinheiro num jornal desportivo porque o Record, aqui há uns anos, tinha um monopólio do Benfica em fascículos que muito atraiu a família; em torno de mim, dizia, sucedem-se as típicas fúrias alegres ou tristes, as babinhas raivosas espumadas nas redes sociais, a choradeira indómita de quem gosta mesmo muito daquele clube, pá. Da observação dessas expressões estranhas e a meu ver excêntricas, porque a bitola do banal somos nós que a definimos (e à nossa imagem, de preferência), nasceu-me, contudo, um franco interesse no grafismo colorido desta manifestação do absurdo. Porque entendamo-nos: nada daquilo faz qualquer sentido (espero que não me levem a mal). O adepto típico pertence a um clube (pagam e tudo) com o qual nem tem especial relação de proximidade (o bom serrano é com facilidade um benfiquista ferrenho) e sofre vigorosamente com as peripécias de uma equipa que vive numa espécie de estratosfera, longe de todos nós. Numa base semanal, o adepto apaixonado gasta algumas dezenas ou centenas de euros para assistir aos jogos, acompanha com cuidado as tabelas classificativas, contabiliza rigorosamente os golos marcados e sofridos e faz ainda contas até ao final da temporada para ver se dá. Se não dá, o adepto chora, grita, esperneia porque não deu; queixa-te das táticas e das técnicas e das estratégias; vilipendia os árbitros, os treinadores, os presidentes e os jogadores; maldiz o mundo, a vida e diz ao filho para se esforçar mais nos treinos, para depois ir para a equipa e ganhar isto tudo, porque ele, aquele rapaz, é que vai ser o próximo Eusébio, oiçam o que vos digo. Isto durante cerca de uma semana, talvez duas. Depois tudo acalma, a vida habitual regressa e começa a pensar-se na época seguinte. Como se estivéssemos todos lá na montanha a ver Sísifo mexer o pedregulho. Há aqui uma bonita (quem sabe útil) metáfora para esta brincadeira. 

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publicado às 11:40


Down and out em Lisboa

por Rui Passos Rocha, em 19.04.13
Felizmente para quem governa, é cada vez mais difícil distinguir um esquizofrénico não tratado de alguém que simplesmente fala ao telemóvel. A Lisboa que eu conhecia antes da invasão dos auriculares era uma cidade soberana e gritantemente doente, onde eu podia regozijar-me com os meus sentimentos igualitários face a sem-abrigo abstractos. Os concretos continuam por aí, inconscientes dos meus actos caridosos imaginários, mas eu continuo a preferir entreter-me com a imagem que me faço deles. E essa imagem vai-se reconfigurando: ora vejo colarinhos brancos de barba rala que gritam para executivos inexistentes, ora vejo ensacados que discutem auditorias da KPMG com as suas orelhas mãos-livres enquanto se arrastam para a sopa diária. Um dia destes começarei a falar do meu tempo...

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publicado às 23:12





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