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Agora a sério

por Rui Passos Rocha, em 21.08.13
Não sei se é da minha feliz falta de preocupações, se das parcas notícias que me temperem e ocupem com vidas alheias: facto é que o Jardim da Estrela nem sempre me é só cenário idílico e local privilegiado para umas leituras. Há coisa de um mês, lembrarei bem, aconteceu-me fixar o olhar num pato-bebé que se deixou ficar para trás a meio da particular Marcha dos Pinguins empreendida pela família, desde um lago até um jardim afastado (tão afastado que os perdi de vista). Não pude voltar à ficção escrita enquanto o ouvia grasnar debilmente; só o fiz, e por pouco tempo, quando uns 20 minutos depois parte da parentela adulta o resgatou.

Hoje foi bem pior. Sentado noutro banco, dividia eu o tempo entre ler e observar o miúdo que, esquina sim esquina sim, caía do triciclo. O que me fez olhar para o chão junto a mim, e ver um farrapo preto lá estendido, foi o estalido anormal que ouvi à passagem do miúdo pela minha frente. Não era um farrapo: era um pombo com, quero acreditar, apenas uma asa partida. Ainda o quero crer, mesmo tendo visto o pombo arrastar-se vagarosamente pelos dois metros que o separavam do local do crime à valeta mais próxima; mesmo tendo visto o mesmo miúdo pisar-lhe, ao de leve é certo, a ponta de uma asa (só não lhe colocou de novo um pneu em cima, numa terceira ronda, porque desistiu com o meu protesto); mesmo tendo visto outro miúdo dar-lhe, involuntariamente, um pontapé no bico enquanto se concentrava em vergastar o ar para assustar os patos em torno; e mesmo tendo registado, para uma memória de nada curto prazo, as bicadas desesperadas com que outro pombo, sempre junto ao moribundo, o tentava reanimar.

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publicado às 20:28


1 comentário

De moços da azambuja a 21.08.2013 às 22:56

Gostámos do logótipo Muito bem conseguido. Parabéns!

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