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Palavra de desonra: quero um dia ser tão científico e rigoroso quanto um político, um economista ou um gestor dos que têm bordejado o poder. É impossível não admirar um ai aguentam, aguentam! pela eloquência com que nos lembra que o contrário de estar vivo é estar morto, assim como é difícil não rejubilar com o sucesso do ajustamento português, com taxas de juro mais pequerruchas e mirradas importações que sustentam as pujantes exportações.
Um sucesso que será certamente maior se as vozes de Ricardo Salgado e de Pedro Reis chegarem ao céu: eles não entendem como, com quase 18% de desempregados, não há mais portugueses pagos com o salário mínimo nas obras do Alqueva. Eu também não entendo - até porque me parece que o governo tem feito um bom trabalho de prevenção - que ainda haja gente com esperança de vir a fazer algo para que estudou ou em que trabalhou, preferencialmente perto de onde tem família e amigos. Mas há pouco a fazer: isto é gente que comprou casa e assentou raízes sem pensar num futuro assim, vá, flexível.
Gente que, estupidamente, comprou a esperança que lhe foi dada, por muitos anos, por governantes, economistas e banqueiros que, envergonhados, viriam mais tarde a desaparecer, perdão, fazer por aparecer com discursos moralistas. Mas eu invejo-os: o distanciamento analítico por detrás das suas postas de pescada tende a ser inversamente proporcional à sua distância das decisões. Não há nada melhor do que uma boa análise de economia positiva. Já eu, menos positivo e mais normativo, tendo a perder poder de abstracção quanto mais longe me percebo da residência da senhora democracia. Nada como estar lá para ser isento.