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Moralidade e assim

por Frederico V Gama, em 19.05.13

O gestor público Teófilo Braga deslocando-se para o Palácio de Belém no eléctrico 15.


 

Afastado dos segredos da vida empresarial, sigo pelos jornais os intermináveis sucessos dos nossos magos da gestão pública e de empresas públicas, que são o que são e cuja lista mereceria da parte do Rui Passos Rocha e do Tiago Moreira Ramalho o acompanhamento a um barbeiro que usasse a navalha de Ockham. A ideia de que o ministro da Economia está a elaborar um despacho para cortar nos carros e motoristas dos gestores públicos e nos gestores de empresas públicas está a recolher apoio de várias camadas da nossa população e mesmo de colunistas insuspeitos de perceberem de economia. Eu concordo, por uma questão de princípio. Vivo a quilómetro e meio do meu posto de trabalho e o percurso é agradável, sobretudo na Primavera (até nesta Primavera): passo pelo sr. Augusto dos jornais, pelo fornecedor de bica em chávena fria, e por um ajuntamento de plátanos e choupos a que estranhamente a minha estimada autarquia chama jardim. Em pouco mais de vinte minutos perfaço esse caminho até me sentar à secretária e ligar o computador para saber o que António José Seguro disse nos dois dias anteriores. Não preciso de motorista nem, notem bem, do carro com que ele podia, por hipótese, apresentar-se à porta de minha casa. Mas eu não sou gestor público nem gestor de empresas públicas. E acho que um gestor público ou gestor de empresas públicas podia perfeitamente viver sem carro ou motorista. O presidente Teófilo Braga ia de eléctrico para Belém, de forma bastante proletária, tendo ocupado o cargo entre 29 de Maio e 4 de Agosto de 1915. Não tinha direito a telemóvel, a computador portátil ou a cartão de débito para despesas de representação e consta que passajava as suas peúgas no intervalo das audiências. É a esta moralidade que temos de regressar com urgência: gestores públicos e gestores de empresas públicas com sumptuosos e austeros bigodes, transportando a sua marmita com arroz de tomate e pastéis de bacalhau e uma maçã riscadinha de Palmela para sobremesa complementada de café de cevada. Em simultâneo, o governo devia fornecer-lhes acesso à internet apenas em determinados horários, e um plafond aceitável para corridas de táxi (a justificar com três impressos conformes ao regime de austeridade). Da mesma forma, os senhores secretários de Estado teriam subsídio de transporte para as companhias de ónibus ou metro de Lisboa, e comparticipação na compra de atacadores dos seus botins. Com esta medida iria moralizar-se a vida pública e o Estado poderia, com vantagem, contratar ministros, gestores públicos e gestores de empresas públicas ambiciosos e orgulhosos das suas condições laborais. Quem não quer trabalhar num clima desta moralidade? Estou na primeira linha.

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publicado às 00:56


Do que tu precisas é de um bailout

por Frederico V Gama, em 02.05.13

Que a Antena 1 envie a Havana uma pobre alma fazer a reportagem sobre o 1.º de Maio em Cuba, é uma coisa que deve estar no caderno de encargos da empresa pública que o Mr. da Ponte definiu como pop smart, porque a pátria de Fidel é, tirando Varadero, a democracia em estado puro, uma espécie de ex-RDA com salsa e rumba. Que o governo e as instituições e as figuras de cera, a oposição e a Antral, por exemplo, não tenham caído no instante em que Mr. da Ponte definiu a RTP como pop smart, só isso já é uma coisa que me escapa, mas deve ter a ver com complicações hormonais do próprio país. Que não tenham enviado ninguém, com o José Luís Peixoto, a Pyongyang ou a Pequim, ou a Venciana, ou a Caracas, também me passou em branco, e acho uma injustiça porque onde são garantidos os direitos dos trabalhadores deve estar um repórter da Antena 1. Onde há um direito do trabalhador está alguém da nossa rádio pública, que é como deve ser, ou então pode ir alguém da Antena 3, que também é pop smart e os Linda Martini ficam bem em qualquer lugar onde se admitem vozes desafinadas. Mas o que me obrigou a suster a respiração foi a Ana Lourenço, na SIC Notícias, a sugerir ao Senhor Doutor Bagão Félix, que tinha acabado de anunciar, em simultâneo, o apocalipse, um strip-tease de Christine Lagarde e uma campanha de preços do Pingo Doce, com aquela cara de quem anuncia, em simultâneo, o apocalipse, a morte do major Alvega e a merda em que isto está: "Com este ministro das finanças não vamos lá..." Reparem bem no que eu disse: a sugerir. Porque não foi uma pergunta (do género: "Doutor Bagão, que quido, e acha que o Gaspar é homem para estas farras?", onde o ponto de interrogação significa que se fez uma pergunta). Não. Foi assim: "Com este ministro das finanças não vamos lá..." (onde as reticências significam "Bagão, vá, follow me..."). Melhor do que isto só os repórteres que, na TVI24, acompanharam em directo e com Vicodin o desfile do 1.º de Maio. Queriam rumbas, estes, queriam...

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publicado às 23:24


São todos fachos

por Frederico V Gama, em 19.04.13

Segundo um cavalheiro que foi enviado à Venezuela pela revista Visão, e que não deixará de regressar, o derrotado Capriles Radonski, candidato da oposição, «reúne a direita radical, a classe média devota de Miami e a burguesia moderada». São quarenta e nove por cento do eleitorado venezuelano, che! Trinta e dois e meio por cento usa ou alguma vez tencionou usar bigode.

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publicado às 11:14





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