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Há várias vantagens em demitir o governo II

por Frederico V Gama, em 02.07.13

Uma das inúmeras vantagens em demitir-se este governo é que as crónicas de terça-feira do Senhor Doutor Mário Soares se transformariam num exercício ainda mais penoso para todos os portugueses, prova de que se pode ocupar uma página sem quase saber ler e praticamente sem saber escrever. Comprovei isso depois de folhear um livro sobre o qual o Senhor Doutor Mário Soares (apesar de se julgar que foi escrito por ele) declara que não se trata de crítica literária ou de história da literatura (que Deus nos proteja!), mas apenas de algumas “penetrações literárias”. Se não acreditam, consultem a imprensa e cultivem-se. Tal como Francisco Assis e Carlos Zorrinho, o Senhor Doutor Mário Soares é um dos portugueses que escreve mais adjectivos fora de contexto e isso explica tudo. O Senhor Doutor Mário Soares ficaria mais feliz com a queda deste governo, a Fundação que leva o seu nome melhoraria os balancetes e Portugal voltaria a ser um país com futuro (que Deus nos proteja!).

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publicado às 12:27


Há várias vantagens em demitir o governo I

por Frederico V Gama, em 02.07.13

 

A primeira delas, mas não a mais importante — apenas uma das mais divertidas — é que o Professor Carlos Zorrinho deixava de se parecer com um pavão depenado. Isto é um ataque ad hominem, mas é aplicado com toda a justiça, como uma espécie de uppercut direito ao assunto. Juntamente com Francisco Assis, Carlos Zorrinho é o português que utiliza mais adjectivos por minuto em conversação normal (até quando é entre alentejanos) e que consegue manter um sorriso mesmo quando discute consigo próprio. Obrigá-lo a fazer contas era uma bênção para todos nós.

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publicado às 12:21


Agora tudo correrá sobre rodas

por Frederico V Gama, em 02.07.13

O título mais português de hoje, na imprensa, vai para o jornal I: “Gaspar. O adeus de um ministro em ‘desvio colossal’ com o país”. Não li o texto, porque começa por estas duas sentenças: “Mal visto no país, malquisto no governo”. Eu aprecio bastante jornalistas e, de entre todos, tenho uma admiração ímpar por jornalistas que dão lições de moral e interpretam a vontade do povo. O povo malquistava Gaspar, tal como o governo. O povo, porque queria comprar viagens às Caraíbas em prestações, o governo porque queria fazer apostas destrambelhadas no crescimento, talvez mesmo auto-estradas e obras públicas que dessem emprego e fundos perdidos a empresas amigas que depois ajudam nas campanhas eleitorais e na imprensa de que são accionistas. Os meus companheiros de blogue até podem ter uma fé infinita no povo, mas um povo que aclama Arménio Carlos, que lê os artigos do Sr. Dr. Mário Soares, que pasma em estado de pré-orgasmo diante do Sr. Eng.º Técnico Pinto de Sousa e dá vivas ao Dr. António José Seguro não é um povo de confiança e, portanto, entendo que devemos demiti-lo e, em conformidade — e última necessidade — eleger outro. Dado não estarem reunidas as condições para eleger outro povo, porque no fundo até pode dar-se o caso de gostarmos deste, sugiro que de quinze em quinze dias se façam eleições para nomear ou confirmar governos que sejam do agrado do povo. O ministro Gaspar estava em desvio colossal com o país e portanto devia ser liminarmente afastado e ser substituído pelo Sr. Dr. Carlos Zorrinho, doutorado em Gestão da Informação, que entrará em delicodoce comunhão com o país, oferecendo espremedores de citrinos e telemóveis de última geração aos contribuintes e ao mesmo tempo zurzindo os hemiciclos com as suas piadas (de que só os alentejanos se riem, eu sei). Precisamos urgentemente de um ministro das finanças que não esteja em desvio colossal com o país, como aquele antigo secretário de estado do PS de que não sei o nome, mas pisca os olhos e é relativamente belfo. O ministro Gaspar era mal visto no país e malquisto no governo? Pois que o substituíssem. Agora tudo correrá sobre rodas. Aliás, corrijo: agora tudo vai correr sobre rodas, foda-se.

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publicado às 11:55


Exultemos

por Frederico V Gama, em 01.07.13

Agora é que vai ser. Por um momento é que vai ser. O povo exulta, Gaspar foi embora. Portas exulta. Zorrinho aplica-se em novas metáforas, todas elas de grande efeito nas escadarias do parlamento (daquelas que só os alentejanos se riem). Abreu Amorim ganha a câmara de Gaia por larga maioria. Arménio Carlos exulta. A direita se faz favor exulta gravemente e com tons de moral repenicada porque o mal de todos os males acaba de sair do governo. O Dr. António José Seguro pede uma audiência ao presidente da República e, de caminho, vai pedir a demissão de todo o governo, o regresso do bem, a taxa de desemprego inferior à média europeia e a satisfação do povo. O povo, esse, exulta também porque o preço dos telemóveis vai baixar e o décimo terceiro mês vai ser reposto na altura exacta. A direita se faz favor gostava de Gaspar, mas isso era se Gaspar, caralho, fizesse reformas e se, com as reformas, contentasse o povo inteiro, baixasse os impostos e subisse os impostos, cortasse na saúde e aumentasse os gastos na saúde, fosse social e acabasse com o rendimento mínimo, fetejasse a lavoura e acabasse com a agricultura, isso sim. Há melhor remédio, e eu proponho-o com todas as letras: o Presidente não deve ir para as Selvagens e, em vez disso, demite todo o governo. O povo fica muito contente e deixa que o PS, o PCP, o BE e até o PP, formem um governo que agrade aos portugueses e seja chefiado pelo Dr. António José Seguro, que compreende os portugueses melhor do que ninguém. O Gaspar é um criminoso e merece ir embora, Mário Nogueira exulta, Arménio Carlos deixa de incitar o povo à revolução, e o fedelho do BE de que me esqueci o nome, mas que é o menino de ouro do BE com aqueles casaquinhos de bombazine de cor de merda, vai a ministro da solidariedade, os ricos pagam a crise e os taxistas voltam a odiar os pretos. A Dra. Ana Drago também vai a ministra e o Prof. Boaventura fica procurador-geral e nas horas livres escreve manuais escolares para crianças que vão participar na vida cívica com brio e elegância. Sendo assim, exultemos, mudemos o disco para Jerónimo de Sousa dançar a chula e Sócrates vai a eurodeputado. O povo fica contente. Quem somos nós para desmenti-lo? Viva o povo, viva. 

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publicado às 22:19


Gorda é a tua mãe

por Frederico V Gama, em 18.05.13

Hoje fui comprar pão, alfaces e jornais para a manhã de sábado não correr tão mal, e fui atingido pela capa do Jornal de Notícias a avisar-me que metade dos portugueses têm excesso de peso. A notícia comoveu-me durante uma boa meia hora, de modo que, sentado na esplanada, comecei a reparar nos portugueses. Não me pareceu que, enfim, metade deles fossem excessivamente gordos, anafados, com peso excessivo. Mas aqui há uma tropelia que começa a ameaçar-nos diariamente e que constitui uma espécie de ameaça velada contra o nosso bem estar mental, e eu passo a explicar: não há puta de uma conversa de circunstância em que não venha alguém a sermonear sobre como está mais gordo, como eu estou mais magro, como se passou a fazer ginástica ou a frequentar uma loja de produtos biológicos, como se está um harmónio que aumenta e baixa de peso. Na semana passada, o Vítor, um alpicastrense que já não via há dois anos, cumprimentou-me efusivamente e com aquele ar cretino que têm as pessoas que vêm do ginásio às sete da tarde antes de comerem a sua dose diária de cereais sem açúcar e sopa de abóbora sem batata: “Ó Frederico, caralho, estás mais gordo!” Eu respondi com a amabilidade de um velho conhecido diante das obras da câmara local: “E tu tens alguma coisa a ver com isso?” Reparem que, mesmo sendo um rural, não utilizei a frase que nestas circunstâncias seria a mais indicada (qualquer coisa como “e tu ó meu filho da puta deves ter muito a ver com isso deves”, tudo seguido e sem pontuação), limitando-me ao grau zero do insulto, o que me impediu de esclarecer que, de facto, tinha emagrecido cerca de dez quilos nos últimos meses, graças a sacrifícios letais e a um ódio crescente contra os meus semelhantes.

De modo que não me pareceu que metade dos meus concidadãos tivessem excesso de peso, mas o “Jornal de Notícias” esclarece-me, de longe, que temos de ir ao nutricionista e ao ginásio e ao confessionário e ao psicólogo e aos gordos anónimos e aos revisionistas sem remissão e aos economistas católicos e aos macrobióticos invertidos e à ervanária e à missa e às prateleiras dos produtos saudáveis, tudo em busca de salvação, porque é preciso emagrecer, sobretudo fazer exercício, deixar de fumar, ter uma vida saudável e não exagerar na cafeína (os meus concidadãos podem ser diferentes dos do JN, há sempre essa hipótese, mas um dia eu gostava de fazer um raid pela redacção do vetusto jornal das províncias do norte). Os nutricionistas, a Judite de Sousa, a Cinha Jardim (acabo de saber, ao folhear uma “Vip”, ou “Flash”, já não me lembro, que tem de emagrecer cinco quilos), o meu vizinho de cima e uma prima do Fundão que era hippie, acham todos, em coro, que somos todos gordos. Eu preciso de emagrecer duzentos e vinte gramas para estar nos padrões indicados para qualquer beirão da nova geração, mas não mereço essa grandiosa manchete do JN, foda-se, estamos todos com excesso de peso, o presidente da República é um caniço, o Tó Zé Seguro emagreceu desde que saiu de Penamacor e a senhora da biblioteca que vigia a consulta de periódicos decidiu que tinha de ir diminuir o tamanho dos glúteos. Este é o retrato do país: um país de 50% de gordos. Deixem de comer rissóis, pode ser que sejam mais felizes.

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publicado às 16:03


Do que tu precisas é de dois swaps

por Frederico V Gama, em 03.05.13

O primeiro ministro vai hoje à noite anunciar cortes de seis mil milhões. É escusado. O governo deve demitir-se imediatamente, apresentar a conta de exploração corrente e deixar a Portela com destino à Nova Zelândia. Concomitantemente, o país deve eleger por televoto um governo que lhe agrade, que diminua rapidamente o desemprego, ponha tudo isto a crescer (ninguém percebeu ainda que o problema é do crescimento, e que Gaspar e Santos Pereira são baixotes), desça a idade para o consumo de drogas leves, aumente os salários, baixe os impostos, traduza o blog de Paul Krugman, construa a terceira auto-estrada entre Lisboa e o Porto e abra concursos para a função pública. A receita dos SMS de valor acrescentado do televoto eleitoral pode ser aplicada na criação de ciclovias. Mas o importante é que o governo se demita. As ideias de António José Seguro para a criação de emprego, emprego, emprego (repetir três vezes, que eu bem vi), para o crescimento e para a prosperidade são bem conhecidas de todos, e formaremos um governo com jornalistas de esquerda, Ana Drago, pessoas amigas de Paulo Campos, pessoas que vêem Jorge Coelho na televisão e a contribuição do bispo Januário. Mas, antes de tudo, Nova Zelândia com eles. Entregues aos maoris. Nós cá nos arranjaremos. Temos o Galamba, o Arménio Carlos e o Vasco Lourenço. Vai correr tudo bem.

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publicado às 00:04





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