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Limpinho

por Rui Passos Rocha, em 25.06.13

Há graffiti e graffiti, dirão os cínicos ou os interesseiros, mas nem uns nem os outros, que vivem ainda na crença de que a palavra de ordem cortar, cortar, ceifar, ceifar - pois afinal fomos até 2011, precisamente até meados de 2011, umas capciosas bestas, e desde então temos vindo a ser devidamente metidos na ordem - possa vir a ser trocada por crescer, crescer, ou até por corrigir, corrigir, percebem que o pouco tempo restante a quem nos governa do desgoverno anterior, ainda que esteja a desgovernar mais um bocadinho, não dá para subtilezas como descortinar se há graffiti e graffiti, uns artísticos, a estimular, e outros nem por isso. Corta-se tudo a eito e já está: tags, ou mijinhas nas paredes, como ouvi de um graffiter chamado Parks, não mais cabem na parede privada, ou no eléctrico público, e o mesmo destino vai para o abraço de Saramago a Pilar que vou vendo lá para os lados do campo das cebolas, ali mesmo num edifício que a propriedade privada legou desfeito ao visionamento público; e o mesmo acontecerá também ao "eu nunca fiz senão sonhar" que alguém foi pescar a Fernando Pessoa e colou à parede mais maravilhosa para o efeito, a do hospital Miguel Bombarda, que entretanto foi abandonado, ficou ao deus-dará, ou às moscas se preferirem - um ou as outras com certeza não dedicam um segundo do seu tempo a ler aquela parede; mas talvez haja humanos, entre os quais eu, que sempre que ali passam sorriem com a frase, melhor metida não poderia estar. Tenho a certeza de que Banksy teria algo a desenhar sobre isto, digo Banksy porque do lado de cá o génio está todo em quem governa, cujo tempo é necessariamente pouco, mesmo à justa para limpar as nossas borradas, tanto as de quem borrou a governação como as de quem borrou as paredes, tanto que nem tempo sobra tantas vezes para discutir os direitos das minorias, casar, adoptar, seja o que for, mas sempre se arranja um tempinho para lhes retirar outros direitos que ainda sobrem, como poderia ser o de se exprimirem em espaços públicos sem terem de antes passar pelo crivo arbitrário de quem governa e defende interesses nebulosos.

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publicado às 16:31


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