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A bondade acima das personagens

por Tiago Moreira Ramalho, em 16.05.13

O Metropolitano de Lisboa permite-me ver o saldo do passe do utente que passou na plataforma antes de mim. Se isto seria já de si recriminável pelas razões que, de tão evidentes, me escuso a expor, torna-se absurdo quando compreendemos que a pessoa que passou não pode, por muito que queira, ver que saldo tem – esperar, ali, é tramar a saída e ficar a ganir por um técnico da empresa ou passar à socapa num comboiinho confortável com alguém simpático. Atenção, não se pense que eu rejeito algum absurdo. Aliás, eu abraço o absurdo. É a minha forma de ir sustentando os dias (digo-o com leveza, pois). Aprendo francês, por exemplo. Perguntava-me no outro dia, no Bairro Alto, uma rapariga cujo nome nem m’alembra porque é que eu aprendia o francês se a língua está, dizia ela, a morrer. Nós também, não é?, respondi eu. Ela assustou-se muito e foi juntar-se a gente mais divertida. Por isso, sim, eu gosto muito do absurdo. Mas o absurdo tem de ser, como todas as outras coisas, doseado. E o Metropolitano de Lisboa não doseia. Exagera. Hoje, ao ver que a senhora que passou à minha frente, uma senhora de meia-idade, provavelmente mãe de família, com algum sucesso profissional, um marido carinhoso, desses modernos, tinha apenas 5.06€ no cartão Lisboa Viva, senti-me um voyeur, mais que tudo, e isso é que custa, desnecessário. Aconteceu-me isto quando voltava da apresentação do livro do Bruno Vieira Amaral, meu grande amigo (é uma expressão muito corrente; voltaremos a ela) e autor (como dizem algumas pessoas, quando se querem referir a gente que escreve livros). Agora não é altura para isso, porque pronto, mas escreverei umas linhas sobre o assunto.

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publicado às 22:41






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